domingo, 17 de março de 2013

"Pinceladas de barro cor da pele cobrem minhas cicatrizes como um carinho

Todas as manhãs, antes de me iludir com a vida

Lavo no escuro adocicado minhas pequenas pupilas

Escorrego sabão nos círios da pequena boneca

Cubro a alma com uma pitada de lápis nas sobrancelhas finas

Faço elas ficarem bem grossas com perfil de misteriosa

Minhas mãos já sabem de cor a forma de cada olheira

Profunda de tanta chuva que tomou

É como se cobrisse minha alma todas as manhãs

É como se a mim só eu conhecesse

Quando estou definitivamente uma pintura de Basquiat

Olho-me no espelho

O que vejo

Um touro, uma donzela, um insecto, uma traça, um sonho

Não sei bem se vejo ou deliro

Mas crio coragem e abro a porta

Quase sempre venta e lacrimeja

Coloco a bagagem nas costas

De costas me olho mais uma vez no espelho

Sim, agora estou pronta

O exagero, o Destino me perdoe, tenho pressa, saiam da frente

Que meu cansaço derrete meu barro e a escultura cai

Tenho pressa, minha vida é passageira

E meu escudo de pele moldado por cicatrizes

Quando chego em casa, sento, tiro os sapatos, calço a minha essência e choro

Quando a obra facial se desfaz, coloco as mãos sobre o rosto e sorrio

Acendo uma vela, abro a torneira e lavo minha alma

Agora, nua".

Bárbara Paz, Actriz Brasileira

Sem comentários:

Enviar um comentário