quarta-feira, 28 de maio de 2014

Quando me transformei em Golfinho...



Ontem alguns meninos traziam como trabalho de casa uma composição. Tinham de imaginar que se transformavam num golfinho. Enquanto eles rabiscavam letras na sua folha de rascunho, também eu fui rasurando uma folha de linhas com uma história assim:

Olá! Chamo-me Lili e sempre tive um sonho, conhecer o mar!
Todas as noites pedia ao Senhor, nas minhas orações, que me ajudasse a realizar tão grande desejo.
Certo dia num passeio ao luar, olhei a estrela polar, a mais brilhante de todo o céu, e em tom de lamentação disse-lhe:
- Estrelinha do céu, bem que te podias transformar numa estrelinha do mar, e eu seria um golfinho, assim conheceria o ondular das ondas, o sabor salgado da água, a frescura das marés, a cor dos corais e o movimento dos corpos dos peixes…
Num abrir e fechar de olhos, sem saber como aconteceu, o céu transformou-se em mar, as estrelas em ondas suaves, a lua em navio e eu num golfinho azul e simpático. Mergulhei então pelas profundezas do mar, vi restos de náufragos, redes esfarrapadas, botas de marinheiros, garrafas com mensagens de amor que se perderam, peixes de diferentes tamanhos e variadas cores, de personalidades e atitudes diversas… Não encontrei nenhuma sereia, talvez, essas, não passem do nosso imaginário, ou talvez ainda não estivesse preparada para conhecer esse ser que parece ser tão mágico e especial nas histórias de encantar…
Passado alguns dias, encontrei a mesma estrelinha, agora de textura e brilho diferente, e dou por mim a pedir-lhe para se transformar numa estrelinha do céu… percebi que cada lugar tem o seu tamanho e a sua importância, e entendi que ser humano e poder contar as estrelas do céu é tão bom e bonito como mergulhar pelas bravas e inigualáveis águas azuis do oceano.

HEsteves

terça-feira, 27 de maio de 2014

Os olhos.

"Uma jovem mãe, na cozinha, preparava o jantar com a mente totalmente concentrada no que estava a fazer:
preparar as batatas fritas. Estava a trabalhar com afinco precisamente para preparar um prato que as crianças apreciam muito. As batatas fritas eram o prato preferido dos seus filhos.
A criança mais pequena, de quatro anos, tinha tido um intenso dia na escola infantil e contava à sua mãe o que tinha visto e feito. A mãe respondia-lhe distraidamente com monossílabos e murmúrios.
Alguns instantes depois, sentiu puxar pela saia e ouviu:
— Mãe…
A mulher acenou que sim com a cabeça e murmurou um palavra. Sentiu outros puxões à saia e de novo:
— Mãe…
Respondeu-lhe mais uma vez brevemente e continuou imperturbável a fritar as batatas.
Passaram-se cinco minutos. A criança agarrou-se à saia da mãe e puxou-a com todas as forças. A mulher foi obrigada a inclinar-se para o filho.
A criança pôs as suas mãos no rosto da mãe, aproximou-o do seu e disse:
-Mãe, escuta-me com os olhos!"


Achei bonito...

Fica a Dica

HEsteves

quinta-feira, 22 de maio de 2014

O Rapaz do Jardim...



Podia falar das variadas coisas do meu dia… das palavras que traçaram sorrisos no rosto e de outras que, rapidamente, evacuei da memória... hoje tive de tudo… poderia falar, então, de uma ou outra situação, mas a verdade é que o meu ser criou, ao longo desta metade da metade de um século, alicerces tão capazes como as paredes mestras de uma casa…
… Tendo cada coisa o seu peso, a sua medida, o seu tempo, a sua “normalidade” e a sua importância… Vou escrever-vos sobre algo que nada parece ter de especial, mas, maior parte das vezes, são as coisas normais que compõem vidas, refazem histórias e se tornam únicas.
Acabava o meu dia às 20.20h precisamente. Comecei a caminhar em direcção a casa, as ruas estavam molhadas, caiam pingas incertas e leves, o astro estava carregado e o céu escuro, na rua não se ouvia um barulho, nenhum carro passava, nem se avistava vivalma. Mergulhei no mar de pensamentos que ondulava na minha mente, totalmente absorvida do tudo e do nada que desaguavam na areia branca do meu cérebro e colorida pelo verde dos arbustos do jardim, a minha imagem de calças e blaser preto caminhava apressada e em silêncio, até que olhei para o coreto, lá estava uma outra espécie igual a mim, encostada a uma coluna, o seu olhar focou-me, levantou o sobrolho como se me conhecesse, não tive a certeza de que lá estava mesmo uma pessoa, voltei a olhar… faz-me um sorriso e murmura um “Olá” num tom tímido mas simpático… educadamente respondi de igual forma...
Mas dali para a frente na praia dos meus devaneios, a questão passou a ser: “ Quem era aquele?”, “ O que estava ali a fazer?”, “porque me falou?”
Dele nada sei… tinha um casaco e estava de gorro… acho que em tons claros, mas nem a cor sei dizer…nada sei dizer daquela pessoa que se encontrava, ali, completamente sozinha na hora em que as famílias se juntam para jantar… não sei se era bonito, a que estrato social pertencia, se tinha boa “pinta” ou um ar inteligente…ia demasiado imbuída em mim mesma e não fui capaz de fazer qualquer tipo de análise… sei apenas que o seu olhar me marcou e que a sua presença me perturbou …
“Quem era? O que estava a fazer? E porque me olhou daquela forma?” São as perguntas que me percorrem até agora.

Se não há acasos… aquele rapaz não se cruzou comigo por nada…
Vale a pena pensar nisto…

HEsteves

terça-feira, 20 de maio de 2014

" Achaques" na casa dos 20...



Como tantas vezes e tantas noites estava pelo chat a falar com alguns amigos… e é de conversas patetas que por vezes tiramos as mais proveitosas lições.
Diz-me ele:
“ – Eu estou é a ficar velho, já não me posso meter em aventuras…”
“ – O que direi eu? Até descobri que tenho mais um cabelo branco!” Retorqui, uma vez que lhe levo um ou dois, ou até três anos de avanço.
“ – E eu estou a ficar preocupado! Estou a ficar sem cabelo!”
Ironizando, ainda, completou: “ – Pareço um sacristão!”

Claro que me tive de rir… mas o que se retira desta conversa?
Pois é… quando nós julgamos estar mal, devemos lembrar-nos que há sempre alguém pior… assim sendo, contemplemos o que temos e aprendamos a viver com isso…
Fica a Dica.

Por fim, disse-lhe:
“ – Mais consolada, eu, agora!”
Bem-haja!

HEsteves

sábado, 17 de maio de 2014

Reflexão do dia...

"O distraído nela tropeçou,
o bruto a usou como projétil,
o empreendedor, usando-a construiu,
o campônio, cansado da lida,
Dela fez assento,
para os meninos foi brinquedo,
Drummond a poetizou,

Davi matou Golias…
Por fim,
o artista concebeu a mais bela escultura.
Em todos os casos,
a diferença não era a pedra
mas o homem."

António Pereira



A Diferença está na vontade de e para onde queremos ir...
Bem-haja.

HEsteves



Nos ombros do coração...



Dizer que penso em ti seria mentira, e nada mudaria… dizer que não me lembro de ti também não seria verdade e também nada mudará… na realidade, não quero mudar nada…quero que tudo se mantenha como está, porque é a assim que tem de estar… é este decorrer do tempo e das histórias que nos compõe e nos completa… pensar e lembrar não são a mesma coisa… pensar é um acção presente, lembrar é acto do passado, uma memória que perdurou no passar dos dias e das horas, das mágoas e das conquistas… é um peso leve que acartamos connosco… só a idade ou a doença é que nos faz combalir o cérebro e apagar o que, até então, quisemos trazer aos ombros do coração…
Ontem ao ver-te não me lembrei nem pensei em ti… fiquei imune, como quando se bebe um copo de água sem sede… ao invés, hoje, já me perdi entre o pensar e o lembrar… descubro, agora, que talvez o meu coração te traga aos ombros…porque já foste as minhas assas e já me levaste a sentir a brisa suave das manhãs e das noites de primavera e o vento cortante e frio do inverno, porque já foste a água que me matou a sede e o vinho que me embriagou e me ressacou… porque já foste a minha torre de menagem e o “inimigo” com quem travei batalhas sem vencedores ou vencidos… porque na vida as perdas nunca são derrotas e os ganhos nunca são vitórias… e entre o pensar ou repensar, o lembrar ou relembrar, o esquecer… escrevo para dizer, que apenas o silêncio é mais forte que os nossos olhares...



HEsteves

quinta-feira, 15 de maio de 2014

(...) a importância da lentidão

" " Ágil, o esquilo chia e salta de ramo em ramo, o pintassilgo e a gralha voam velozes, um canta o outro grasna, o gato e o cão correm velozes, um mia e o outro ladra, mas nós somos lentos e silenciosos, a vida é assim e não há nada a fazer."

(...)

- Quero saber porque sou tão lento?
(...) tu és um jovem caracol e tudo o que viste, tudo o que provaste, as coisas amargas e doces, a chuva e o sol, o frio e a noite, tudo isso vai contigo, pesa e, como és tão pequeno, esse peso torna-te lento.
- E de que me serve ser tão lento?
- Não tenho resposta para isso. Tu próprio terás de encontrá-la. (...)"





Luís Sepúlveda,
História de um caracol que descobriu a importância da lentidão.

HE

terça-feira, 13 de maio de 2014

" Amores e saudades (...)"

"A única coisa é a vida. A única coisa é a vida de cada um. Sem vida, nada feito. Viver não é a melhor coisa que há: é a única coisa. Cada momento da vida não é único. Mas há momentos únicos. A nossa felicidade não é passá-los como quisermos. É dar por ela a aproveitá-los. (…) A única coisa é saber que um dia virá em que nos será tirada a vida. Para sempre. Mas, por sabermos isso, não podemos perder tempo a pensar nisso. (…) A única coisa é estar aqui, agora, a escrever isto. Enquanto posso. Enchendo-me de alegria."

Miguel Esteves Cardoso

HE

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Observações à portuguesa...



A agitação de por e tirar roupas da gaveta, de fazer e desfazer malas, de ter tudo pronto sem faltar nada… a ansiedade da partida, as palavras do adeus, a incerteza do acontecer, o partir… a nostalgia a que as viagens nos reportam… o chegar… o descobrir, o enriquecer, o conhecer… o recomeço de todo o processo até assentar bagagens de novo… o regressar, o reencontrar, o cheiro familiar, as cores e as temperaturas a que os sentidos já se acostumaram, os sorrisos e os bons dias de todos os que nos conhecem desde putos… o sabor de sentir que é bom cruzar fronteiras, pisar outro chão, sentir outras brisas, olhar outros céus, mas, de igual forma, sentir o aconchego do berço, a voz dos de sempre, a curiosidade vestida das perguntas que nos aborrecem mas que são próprias do ser…
“Como foi? O que viram? Correu bem? O que mais gostaste?”
A viagem de avião durou duas horas e quinze minutos, enquanto estive no aeroporto à espera da hora do embarque, recordo a cara de um homem sentado à minha frente com uma expressão absorta e ao mesmo tempo temível.
Na hora do break-fast reparei que a minha mesa tinha uma marca de tinta rosa e verde, pensei que ali tivesse viajado uma criança que se distraísse com pinturas e pincéis…
O cansaço dos dias anteriores e da rotina “desrotineira”  da minha vida, nas últimas semanas, não perdoou e fez-me dormir quase toda a viagem. Quando aterrámos haviam inúmeras pessoas à espera de quem desembarcava, no meio delas lá estava o nosso guia, com o nosso nome numa plaquinha, falava português, o que facilitou o nosso primeiro contacto em terras inglesas.
Na viagem até ao hotel, deparamo-nos que os carros andam no sentido contrário do nosso, bem como o volante do guiador… nas passadeiras temos indicação para que lado devemos olhar antes de passar… as casas são iguais às que vemos nos filmes, complementadas depois por grandiosos prédios e construções modernas.
Diria que os ingleses têm, uma qualquer, predilecção pelo azul, em vários edifícios lá o vemos nas fachadas… a Tower Bridge é um dos melhores exemplos. Porém para mim, o mais esplendoroso monumento é, sem dúvida, o Big Ben e todo o quadrante do Palácio de Westmister.
Pessoalmente o London Eye não me disse muito, é como um carrossel em câmara lenta que permite a contemplação da cidade, não tive essa oportunidade, a fila para o bilhete e a fila de entrada para a roda eram gigantes, decidimos aproveitar o tempo jornadeando e olhando outros cantos. Rumámos, então, a Notting Hiil, um mar de gente e barracas de variados produtos enchiam uma rua enormíssima, o ar tranquilo e seguro com que as pessoas passeavam no meio de tantas outras era de todo fascinante.
Num outro dia, vimos ou tentámos ver o render da Guarda Real, mas confesso que foi deveras difícil, o bico dos pés não me chegou para combater uma pequena multidão que se impôs à minha frente… fica a ideia geral… o desfile dos cavalos pretos e das bandas militares pela estrada, dando entrada depois no palácio da Rainha.
No museu das cavalarias encontrei o Príncipe Harry, disse às minhas amigas que tirei um foto com ele, e não foi mentira, tirei mesmo, ele lá estava num quadro com o seu cabelo cenoura e um ar sério que a sua posição exige. Porém não acho que seja tão louco encontrar o príncipe pela rua, a matéria que o constitui é igual à nossa… o sangue é igual…apenas tem um estatuto e um nome de alta sociedade, todavia “todos” podemos ser príncipe ou princesa, basta ter a capacidade de sonhar, ou então basta ter dignidade e valores assentes.
Os jardins são de perder de vista… os canteiros e as cores das flores captam a nossa atenção no instante, outros têm, somente, colossais tapetes verdes, que em dias de sol são praticamente preenchidos por piqueniques e momentos de lazer… nas avenidas correm pessoas e passam bicicletas constantemente, a prática do desporto ao ar livre parece ser uma “moda” bem implementada.
Ainda de referir que a minha primeira paixão, lá, foi por um bichinho simpático e fofinho, não me deixou fazer festinhas mas vinha bem perto, um deles até me veio comer à mão, o esquilo. Os pombos e os corvos eram também animais muito presentes, podíamos caminhar pelo meio deles que mal se desviavam…
Em relação aos ingleses… a imagem que tinha deles, de calções, meias e sandálias foi completamente destroçada. O povo inglês prima pela beleza e elegância, as senhoras andam impecavelmente maquilhadas de manhã à noite, rara foi a mulher que eu vi desmaquilhada, até a empregada de limpeza do metro estava nos “trinques”. Os homens também se apresentavam dignos, reparei que são poucos os que usam ténis, a maioria usa sapatos, e, já agora, aproveito para dizer que têm todos um grande pezinho.
As crianças, que vi, andavam uniformizadas com a farda dos colégios.
No metro havia sempre um aroma a perfume, tal como em algumas ruas e lojas… sempre fui bem atendida, mostraram grande simpatia, o que me faz pensar que a “frieza” que tanto se fala, não passa de um rumor, até porque achei-os super educados, são o tipo de pessoa que se levanta no metro para ceder lugar a outro mais vulnerável ou que quando lhe solicitado só não ajuda se não puder.
Se tive algumas cenas engraçadas com os ingleses?
Claro que sim! Sobretudo porque eu os percebia na “ponta da unha”.
No último dia e em forma de despedida a minha atenção caí sobre a Catedral de S. Paul onde a músicas dos sinos me encheram a alma e a paz da igreja me preencheu o espírito…
Poderia continuar a falar, mas o texto já vai longo e há experiências que por mais que se diga e se escreva só se percebem quando sentidas…

Se tiver oportunidade, vá apanhar um ar londrino…

Bem haja.

HEsteves