A agitação de por e tirar roupas da gaveta, de fazer e
desfazer malas, de ter tudo pronto sem faltar nada… a ansiedade da partida, as
palavras do adeus, a incerteza do acontecer, o partir… a nostalgia a que as
viagens nos reportam… o chegar… o descobrir, o enriquecer, o conhecer… o
recomeço de todo o processo até assentar bagagens de novo… o regressar, o
reencontrar, o cheiro familiar, as cores e as temperaturas a que os sentidos já
se acostumaram, os sorrisos e os bons dias de todos os que nos conhecem desde
putos… o sabor de sentir que é bom cruzar fronteiras, pisar outro chão, sentir
outras brisas, olhar outros céus, mas, de igual forma, sentir o aconchego do
berço, a voz dos de sempre, a curiosidade vestida das perguntas que nos
aborrecem mas que são próprias do ser…
“Como foi? O que viram? Correu bem? O que mais gostaste?”
A viagem de avião durou duas horas e quinze minutos,
enquanto estive no aeroporto à espera da hora do embarque, recordo a cara de um
homem sentado à minha frente com uma expressão absorta e ao mesmo tempo
temível.
Na hora do break-fast reparei que a minha mesa tinha uma
marca de tinta rosa e verde, pensei que ali tivesse viajado uma criança que se
distraísse com pinturas e pincéis…
O cansaço dos dias anteriores e da rotina “desrotineira” da minha vida, nas últimas semanas, não
perdoou e fez-me dormir quase toda a viagem. Quando aterrámos haviam inúmeras pessoas
à espera de quem desembarcava, no meio delas lá estava o nosso guia, com o
nosso nome numa plaquinha, falava português, o que facilitou o nosso primeiro
contacto em terras inglesas.
Na viagem até ao hotel, deparamo-nos que os carros andam no
sentido contrário do nosso, bem como o volante do guiador… nas passadeiras
temos indicação para que lado devemos olhar antes de passar… as casas são
iguais às que vemos nos filmes, complementadas depois por grandiosos prédios e
construções modernas.
Diria que os ingleses têm, uma qualquer, predilecção pelo
azul, em vários edifícios lá o vemos nas fachadas… a Tower Bridge é um dos
melhores exemplos. Porém para mim, o mais esplendoroso monumento é, sem dúvida,
o Big Ben e todo o quadrante do Palácio de Westmister.
Pessoalmente o
London Eye não me disse muito, é como um carrossel em câmara lenta que permite
a contemplação da cidade, não tive essa oportunidade, a fila para o bilhete e a
fila de entrada para a roda eram gigantes, decidimos aproveitar o tempo jornadeando
e olhando outros cantos. Rumámos, então, a Notting Hiil, um mar de gente e
barracas de variados produtos enchiam uma rua enormíssima, o ar tranquilo e
seguro com que as pessoas passeavam no meio de tantas outras era de todo
fascinante.
Num outro dia, vimos ou tentámos ver o render da Guarda
Real, mas confesso que foi deveras difícil, o bico dos pés não me chegou para
combater uma pequena multidão que se impôs à minha frente… fica a ideia geral…
o desfile dos cavalos pretos e das bandas militares pela estrada, dando entrada
depois no palácio da Rainha.
No museu das cavalarias encontrei o Príncipe Harry, disse às
minhas amigas que tirei um foto com ele, e não foi mentira, tirei mesmo, ele lá
estava num quadro com o seu cabelo cenoura e um ar sério que a sua posição
exige. Porém não acho que seja tão louco encontrar o príncipe pela rua, a
matéria que o constitui é igual à nossa… o sangue é igual…apenas tem um
estatuto e um nome de alta sociedade, todavia “todos” podemos ser príncipe ou
princesa, basta ter a capacidade de sonhar, ou então basta ter dignidade e
valores assentes.
Os jardins são de perder de vista… os canteiros e as cores
das flores captam a nossa atenção no instante, outros têm, somente, colossais
tapetes verdes, que em dias de sol são praticamente preenchidos por piqueniques
e momentos de lazer… nas avenidas correm pessoas e passam bicicletas
constantemente, a prática do desporto ao ar livre parece ser uma “moda” bem
implementada.
Ainda de referir que a minha primeira paixão, lá, foi por um
bichinho simpático e fofinho, não me deixou fazer festinhas mas vinha bem
perto, um deles até me veio comer à mão, o esquilo. Os pombos e os corvos eram
também animais muito presentes, podíamos caminhar pelo meio deles que mal se
desviavam…
Em relação aos ingleses… a imagem que tinha deles, de
calções, meias e sandálias foi completamente destroçada. O povo inglês prima
pela beleza e elegância, as senhoras andam impecavelmente maquilhadas de manhã
à noite, rara foi a mulher que eu vi desmaquilhada, até a empregada de limpeza
do metro estava nos “trinques”. Os homens também se apresentavam dignos,
reparei que são poucos os que usam ténis, a maioria usa sapatos, e, já agora,
aproveito para dizer que têm todos um grande pezinho.
As crianças, que vi, andavam uniformizadas com a farda dos
colégios.
No metro havia sempre um aroma a perfume, tal como em
algumas ruas e lojas… sempre fui bem atendida, mostraram grande simpatia, o que
me faz pensar que a “frieza” que tanto se fala, não passa de um rumor, até
porque achei-os super educados, são o tipo de pessoa que se levanta no metro
para ceder lugar a outro mais vulnerável ou que quando lhe solicitado só não
ajuda se não puder.
Se tive algumas cenas engraçadas com os ingleses?
Claro que sim! Sobretudo porque eu os percebia na “ponta da
unha”.
No último dia e em forma de despedida a minha atenção caí
sobre a Catedral de S. Paul onde a músicas dos sinos me encheram a alma e a paz
da igreja me preencheu o espírito…
Poderia continuar a falar, mas o texto já vai longo e há
experiências que por mais que se diga e se escreva só se percebem quando
sentidas…
Se tiver oportunidade, vá apanhar um ar londrino…
Bem haja.