quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Talvez...


Mais um ano que passa, e peço desculpa por te continuar a trazer comigo todos os dias…na carteira trago um postal que um amigo me ofereceu com um dedicatória, no coração trago a amor que já não dedico…na minha cómoda tenho a tua fotografia por ali meio perdida, mas é para ela que vou olhar quando a saudade me encontra…na alma trago a desilusão, mas na mão tenho a esperança bem apertada para não a deixar ir, também, escapando pelos dedos…no sorriso trago a simplicidade, no olhar a cumplicidade…neste momento não te diria uma palavra…bastava que me olhasses…
No dia em que tomar coragem, ou, talvez, no dia que te abandonar a qualquer esquina…e deixares de ser a sombra dos meus passos, talvez, escreva tudo aquilo que foste para mim e que não soubeste ser…
Mais uma vez peço desculpa, sabendo de que nada tenho culpa, senão de te amar…mas tudo isto não passa de um “talvez”, vai na volta, talvez não seja preciso escreve-lo, talvez um dia, ainda, te o possa segredar ao ouvido…Talvez…


HEsteves

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

2010 já foi...

Mais um ano que acaba
Sem pretensão de olhar para trás
Foi um ano de mágoa
Mas até à morte tudo se faz

Se errar é aprender
Então eu aprendi,
Fartei-me de sofrer
Mas dou graças ao que sofri…

Parti o coração
Ao Diabo vendi a alma,
Mas os Anjos estenderam-me a mão
Não me deixaram perder a calma


Nos olhos viveu a tristeza
Os lábios sorriram sem vontade,
Mas de uma coisa tenho a certeza,
Não perdi a dignidade…


E para terminar, vos quero dizer:
Eu não sou escritora
Versos não sei escrever,
Sou apenas uma senhora
Que continuará a viver…


HEsteves

( Boa entrada em 2011 é os votos para os meus leitores)

sábado, 25 de dezembro de 2010

"Hoje é noite de natal. É hoje que vou descobrir o que o pai me comprou, não estou mesmo a ver o que será, talvez um telémovel novo, desde aquela queda nas escadas que o meu anda meio maluco.
Hoje o avô e a avó vêm cá jantar como já é tradição. A ceia natalícia vai ser bacalhau dourado , eu e o pai vamos prepara-lo juntos, porque como sabes se o deixar sozinho na cozinha as coisas correm mal.
Escrevo-te hoje especialmente, porque este e o dia do teu aniversário é quando me lembro mais de ti e de como eramos os três tão felizes. Nem imaginas a tristeza que sinto quando vejo todos os dias a tua cadeira vazia e me lembro daquele maldito dia, o dia em que te foste embora, naquela carruagem mágica para um sítio onde ninguém sabe onde fica. Fazes-me mesmo falta. Do que mais sinto saudades é dos teus beijinhos de boa noite, calorosos e meigos tal como tu eras.
O pai, o teu cavaleiro andante como lhe gostavas de chamar, anda mesmo em baixo, ontem adormeceu no sofá ao calor da braseira agarrado a uma foto emoldurada que tiraram no dia do vosso casamento. Nunca sei o que lhe dizer nessas alturas, tenho medo de dizer alguma coisa que o possa magoar ainda mais.
Ainda tenho muitas novidades para te contar, agora com os testes não tenho tido o hábito de te escrever todos os serões, mas como sabes por vezes não consigo consiliar, e eu tenho a certeza que tu me perdoas, afinal é por uma boa causa.Por falar em testes as minhas notas foram boas, um dia ainda vou ser médica como tu querias que eu fosse . Ainda te lembras de quando tinha para ai uns seis anos e o meu sonho era ser empregada de mesa porcausa das grojetas? Tu e o pai brincavam comigo, eu tinha que vos servir como se fossem os clientes VIP. Belos tempos.
Tenho tantas saudades. Acho que quando te foste embora levaste o verdadeiro eu contigo, já não sou a mesma pessoa . Todos me dizem o mesmo. Talvez seja verdade. Este mundo cruel, fez-me cruel. Mas há uma coisa que eu não percebo,nem nunca percebi.Porque a nós?!Porque a nossa família? Nós nunca fizemos mal a ninguem até pelo contrário! É injusto porque os bons vão se embora sempre primero. E tu para mim, e para muita gente eras e serás sempre a melhor pessoa do mundo.
Agora tenho de ir, o pai já me está a chamar, deve querer que o ajude a lavar a loiça.
Espero que tenhas um bom natal. Não estás connosco em presença mas haverás de estar sempre cá dentro. Porque como já sabes , a tua casa é o meu coração.
Amo-te, mulher de nome difícil."

Pedro Carapeto


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O TUDO é o NADA


A vida é feita de pequenos “nadas”.

Quando em certos momentos nos questionam “ O que tens hoje?” a nossa resposta é quase sempre a mesma, “Nada!”…Somos tão mentirosos! Aquele “nada”, que pronunciamos num acto despreocupado é sempre qualquer coisa…o facto é que nem sempre queremos admitir que o que não nos é nada, possa ser o tudo…
Assim vivemos numa constante fantasia…e somos o trovão sem raio, o dilúvio sem vento, a noite sem lua, o verão sem calor, o mar sem ondas, o palhaço sem as risadas…somos a história da Cinderela sem o sapato de cristal, o Peter Pan sem a Sininho, o Robin dos Bosques sem os pobres, a Rainha Isabel sem as Rosas, o D. Sebastião sem o nevoeiro, somos o presépio sem o menino Jesus…Somos tudo isso, sem ser nada…
E muitas vezes o que somos de verdade, é o sorriso sem a felicidade…




HEsteves

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010


Ele ficou sozinho, ela aproveitou para o olhar…olhava-o de longe, discretamente. Ele sabia que ela o olhava…e ali estava com um sorriso de alegria infantil e nos olhos uma penumbra de tristeza…tentou distrair-se e quebrar o flagelo brincando com um objecto, objecto que ela lhe oferecera em tempos…porém não se atreveu a desviar o olhos na sua direcção, pois sabia que se o fizesse, estes diriam muito mais que um simples “boa noite”…

HEsteves

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Borracha e Corrector...


Sei que não te poderei acompanhar no teu sonho…nunca estive à altura das tuas fantasias… Nunca estive longe o suficiente para te fazer sentir saudades; nunca precisaste dedicar-me músicas com declarações de amor; nunca foi preciso apresentar-me aos teus “amigos”, nunca tiveste de ensinar-me os caminhos e os recantos mais bonitos da tua terra, eu conhecia-os tão bem quanto tu … Nunca tiveste que me abrigar no calor dos teus lençóis, nunca tive que viver contigo na ilusão da felicidade…
Muitas vezes discordei das linhas tortas que me desenhavas e tentei apaga-las como borracha e lápis… à medida que ia apagando, a borracha ia ficando mais pequena, mas não desmoralizei, achando que deixarias de desenhar curvas e contra-curvas…Até ao dia que tu rabiscaste a caneta, e não consegui apagar o traço que delineaste…tal como não consigo apagar a dor que traçaste no meu coração…e foi ai que me fizeste compreender o quanto imperfeito ele é …funcionando como uma antítese…mesmo morto continua a impulsionar o sangue, mesmo amando e idolatrando é desapaixonado e apático…Difícil de entender, eu sei…
O que não é difícil de perceber, é que se eu soubesse, teria trocado a borracha por um corrector…Eu já não posso voltar atrás, mas tu ainda podes mudar… corre à papelaria e oferece um á pessoa que partilha os teus desenhos contigo…
Poupa-lhe o sofrimento!


HEsteves

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

"Tu, Meu"

Aqui deixo algumas passagens do livro, "Tu, Meu":
" Que vale o meu solo face ao vosso coro."
" O peixe só é peixe quando está no barco. É um engano gritar que o apanhaste mal morde e sentes o peso dele a vibrar na mão com que aguentas a linha.O peixe só é peixe quando está a bordo. Deves puxa-lo para fora do fundo, com um movimento suave e regular, agil e sem sacões. Senão perde-lo."
"(...) tinha compreendido que naquela rapariga havia uma desolação impenetrável, que não deixava ao amor mais que a evasão de um sorriso."
" Nada (...), podias dizer esta palavra escavando-a de dentro da impotência, do terror- nada, há nadas que nunca mais nos largam. Cada vez que ouço dizer a palavra nada, sinto que não é uma palavra verdadeira, que não a sabem dizer."
" Eu nem o mar entendo. Não sei porque é que um barco fica à tona, porque é que o vento e a borrascafazem ondas no mar e poeira em terra. Vivo do mar e nasci nele e não o entendo. E afinal o que é ele? É só mar, água e sal, mas é fundo, mesmo fundo."
" Queria tentar estar perto de ti. Quero crer que é possivel, mesmo que não por agora, mesmo que seja de longe. Sinto a necessidade de esperar por alguém que não se pareça com mais ninguém e tu és assim(...)"
" (...) Depois de mortos somos todos iguais, mesmo os inimigos morrem a pedir ajuda. (...)"
Erri De Luca in " Tu, Meu"

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O choro dos Anjos


Os Anjos, hoje, devem estar tristes por demais. Choram, choram muito…O som das suas lágrimas ultrapassam as imponentes paredes e fazem-se ouvir. As gotas embatem na calçada já lavada e fria da rua.
Foi, então, que parei e perguntei:
- Oh Anjo, porque choram tanto?
Ele do cimo das suas assas, vestido com um manto dourado, de cabelos pretos encaracolados e com os seus olhos azuis cintilantes, respondeu:
- Choro por ti!
- Choras por mim?
- Sim, choro! E tu também já choraste hoje! Porque choraste?
Fiquei a olhá-lo, encantada com todo o seu brilho, enlaçada pela sua calma e tranquilidade com que ele envolvia o momento. Passado alguns minutos, deixara-se de escutar as lágrimas que caiam na rua, ouvia-se o silêncio, parecia que todos queriam saber o motivo da chuva nos meus olhos. Eu respondi:
- Choro porque amo…
- Então choras pela mesma razão que nós! O mundo está a perder o coração…
- Não é só o mundo, eu também…
Ele sorriu-me, passou-me com a sua mão, tão leve e macia como uma pluma das suas assas, pelo rosto, quase não a senti, mas deixou uma boa sensação, e disse-me:
- Choro por ti, mas, ainda, mais por aquele que cegou e não vê o amor que lhe tens, deixando não só o seu, mas também o teu coração sem saber se bate ou se apenas palpita!
- E o que é que eu faço?
- Continua a amar…se todo o amor fosse tão sincero e genuíno como o teu, nós não chorávamos tanto…
Desapareceu num clarão de luz e brilhos, e voltou-se a ouvir a chuva lá fora…


HEsteves