sexta-feira, 18 de junho de 2010

Continuação da Quinta Carta...O FIM...

"(…) Vivi muito tempo num abandono e numa idolatria que me horrorizam, e os remorsos perseguem-me com uma crueldade insuportável. Sinto uma enorme vergonha dos crimes que me levou a cometer; já não tenho, pobre de mim, a paixão que me impedia de lhes conhecer a enormidade.
Quando deixará o meu coração de ser dilacerado? Quando me livrarei desta cruel humilhação? Apesar de tudo, penso que não lhe desejo qualquer mal, e talvez não me importasse que fosse feliz (…) Daqui a algum tempo, talvez já esteja mais tranquila e, com que satisfação, lhe censurarei o seu injusto procedimento, quando este já não me importunar; far-lhe-ei sentir que o desprezo e que falo da sua traição com a maior das indiferenças; que esqueci alegrias e penas e que só me lembro de si quando me quero lembrar!
Concordo que tem sobre mim inúmeras vantagens, e que me inspirou uma paixão que me fez perder razão; mas não se envaideça com isso. Eu era jovem, ingénua (…) Mas, por fim, livrei-me do feitiço. A ajuda que me deu e, confesso, da qual tinha enorme necessidade, foi grande (…)
Reconheço que me preocupo ainda muito com as minhas queixas e com a sua infidelidade, mas lembre-se que prometi a mim própria um estado mais tranquilo, que espero atingir, ou então tomarei uma resolução extrema que virá a saber sem grande desgosto. De si nada mais quero. Sou uma louca por passar o tempo a repetir a mesma coisa. É preciso deixá-lo, e não pensar mais em si. Acredito, inclusive, que não voltarei a escrever-lhe. Que obrigação tenho eu de lhe dar conta de todos os meus sentimentos?”

Mariana Alcoforado

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