quarta-feira, 2 de junho de 2010

2ª Carta

“ Não devias maltratar-me assim, com um esquecimento que me desespera e chega a ser uma vergonha para ti (…) os meus males não têm alivio e a lembrança das minhas alegrias só me trazem maior desespero.

“ E, no entanto, lembro-me de te ter dito algumas vezes que farias de mim uma infeliz; mas estes temores depressa se desvaneciam e com alegria tos sacrificava para me entregar ao encanto e à falsidade dos teus juramentos. (…) Não, prefiro sofrer ainda mais do que esquecer-te. (…) Em nada invejo a tua indiferença: Fazes-me pena. Desafio-te a que me esqueças completamente. Orgulho-me de te ter posto em estado de já não teres senão prazeres imperfeitos, sem mim; e sou mais feliz que tu, porque tenho mais em que me ocupar. (…) Pelo menos lembra-te de mim. Bastar-me-ia que me lembrasses, mas nem essa certeza ouso ter. Quando te via todos os dias não cingia as minhas esperanças à tua lembrança, mas tens-me ensinado a submeter-me a tudo quanto te apetece. (…) A crueldade da tua ausência, talvez eterna, em nada diminui a exaltação do meu amor. (…) De ti só quero o que te vier do coração e recuso todas as provas de amor que me possas dispensar. (…)

Faz o que quiseres: o meu amor já não depende da forma como me tratares. Desde que partiste nunca mais tive saúde e todo o meu prazer consiste em repetir o teu nome mil vezes ao dia.

(…) Estou desesperada, a tua pobre Mariana já não pode mais: desfalece ao terminar esta carta.”

Mariana Alcofarado ( A Freira de Beja)

1 comentário:

  1. Obrigado por me recordares essas palavras, de facto a Maria Alcoforado modificou mentalidades de tal forma que actualmente em pleno século XXI ainda se faz sentir no Baixo Alentejo; o meu pequeno paraíso em Portugal.

    Tudo de bom,

    E.

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