Sem “comos nem porquês”, ali estava ele à frente dela, não
querendo olhá-la mas sem conseguir desprender-se dos seus movimentos, do seu
sorriso, da sua forma peculiar de estar.
Ela fingia não perceber, mas sentiu sempre que ele poisou,
chegou a ser intimidante, não por lhe causar qualquer tipo de reacção interna,
mas para ela, ele perdera o direito de lhe falar assim, ela não quer ouvir... Ela é uma das pessoas mais benevolentes que conheço, mas também uma
das pessoas mais bem resolvidas, para ela aquilo que morre não se desenterra.
Também ela morreu, a
mulher que ele olha hoje é uma estranha para ele, a que ele conheceu morreu
outrora, no momento em que ele se transformou um “morto-vivo”.
Apesar de ele lhe ser um estranho e de não lhe causar qualquer
tipo de peso, ela pergunta-se porque ainda perdeu tempo a reflectir nisto… e
conclui que aconteça o que acontecer, aquilo que vivemos já ninguém nos tira,
tenha sido bom ou mau, pertence-nos, e compõe parte de nós.
É bom sabermos o
que fomos e o que somos, sabermos onde crescemos e quando deixámos de regar
certas plantas e as deixámos secar… Ela não sabe se ele crescera e se mudara,
mas sabe que o olhar dele lhe confessou quase as mesmas palavras que em tempos
eram segredos felizes… mas as coisas mudam… e há que lembrar que por vezes quem
tira o primeiro tijolo da parede não somos nós…
Há muros que jamais se voltam a
reerguer, porque as pessoas que os construíram são, agora, destroços, guardados
apenas na memória.
HEsteves
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