segunda-feira, 8 de março de 2010

FAZES-ME FALTA

A sombra que eu sou projecta-se no teu corpo e resplandecemos, aura azul no frio da tua madrugada.”
“ E eis-me preso à memória escura dos teus olhos, dos teus passos saltitantes, da tua alegria convicta que a partir de certa altura começou a açucarar demasiado a minha vida.”
“ “ A sombra das nuvens do mar/ O vento na chuva a dançar/ Uma chávena a fumegar/ Tudo me falava de ti/A sombra das nuvens desceu/ O céu alto arrefeceu/ E o mar bravio perdeu/ A luz que lhe vinha de ti.””
Morri tantas vezes antes de morrer – morri sempre que o amor parava, e o amor estava sempre a parar dentro de mim. Parava e crescia, comia tudo o que eu sabia. Eu imaginava frases novas como barragens contra essas vagas que me levavam. Mas as barragens caíam, eu voltava morta à praia, renascia a tremer de frio, na noite marítima.”
“ Consolamo-nos na beleza imediata das coincidências, escapa-nos a beleza catastrófica dos acasos.”
A fundo perdido, de resto – como tu. Era às vezes muito difícil gostar de ti. Tu fazias de propósito, gostavas que fosse cada vez mais difícil gostar de ti. Continua a ser, ou não estaria ainda no teu caminho.”


Inês Pedrosa, "Fazes-me Falta"

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