terça-feira, 23 de março de 2010

Doi...


Por entre os tons cinzentos do céu, eis-me ali, escura e tristonha, terás que acelerar o passo, porque verto água com muita facilidade e quando ninguém espera. E vivo neste vaivém de água, saltando poças e pocinhas…há dias em que o sol parece irradiar alguma luz, mas ela depressa se esvai com essa frieza morna com que me tocas ao de leve…é como se eu fosse uma vela que mantém a chama direita, mesmo chorando lágrimas de cera quente, e tu és a aragem, o vento que sopra de mansinho, que chega sem eu me dar conta e apaga lentamente o pouco calor que, ainda, me resta.
Mas mesmo pequenina, já quase sem luz, sendo só, já, quase cinza, continuo com um calor suave e subtil, porque transbordo muita vontade de sempre sorrir, mesmo que seja um sorriso pendurado por duas gotas de água leves e nítidas.
E são estas gotas que me tornam fulgurante e às vezes imperceptível, elas podem não ser sinónimas e trazem a dúvida, elas podem descrever-me por linhas de alegria ou sofrimento. Podia dizer que estou feliz, porque aprendi a viver com a felicidade na tristeza e na dor… mas hoje vou seguir o teu conselho, quase que ouço essa tua voz meio rouca, e sem medo do que os outros possam pensar, criticar, sentir, vou ser mais fria, menos compassiva, e vou dizer a verdade tal como ela é, doa a quem doer, sabendo sempre que a maior dor será minha.
E dói-me…
Dói-me muito saber que é por ela que coras e tremes, só porque ela te disse um “amo-te” e mais meia dúzia de palavras bonitas, que perdem a beleza, simplesmente, porque nenhuma delas tem significado, tem cor, tem cheiro, tem forma… e consola-me saber, mesmo sem tremeres por mim, que o “AMO-TE” que te digo agora e aqui é muito mais bonito que qualquer outro, simplesmente, porque tem história, tem forma, tem cara, tem nome, tem sentimento, tem verdade… dói-me quando dizes que queres arriscar e atirar-te de cabeça, embarcando para uma terra e para uma pessoa desconhecida, dói-me saber que hesitaste sempre, quando te pedi para embarcares comigo para longe, e nunca quiseste ir, porque achavas uma loucura abandonar as coisas, que embora poucas, te prendiam às tuas raízes, dói-me saber que perdeste a lucidez e te dão espasmos de loucura e te tornas tão pouco racional para umas coisas e tão cauteloso para outras, dói-me saber que vou ter saudades tuas se partires, dói-me saber que vou voltar a refugiar-me no silêncio e a sofrer calada…
Mas o que mais me dói…é saber que te perco…e a dor, ainda, afinca quando percebo que não te perco para ela, mas para o medo…
Porém, acredito que o teu coração pode vir a perder esse medo e a descobrir, finalmente, que zangarmo-nos, separarmo-nos é fácil, mas zangarmo-nos, separarmo-nos com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa é difícil, e se bem me lembro essa nossa separação foi tão incerta, o nosso motivo era tão invisível e vago...
Talvez um dia percas esse medo que te domina hoje, ou talvez o feches em fúria ou em depressão e o escondas no mundo do nunca, para ninguém mais o abrir, tal como aconteceu na história da caixa de Pandora, acreditando que era a culpada de se espalharem pelo mundo todas as desgraças e enfermidades. Só a esperança permaneceu dentro da caixa para salvar os mesmos homens.
Quero acreditar que também a esperança nos vai salvar… e me salva a mim, a ti, a nós…e que neste momento, mergulhado no teu silêncio, consegues ouvir a minha voz, voz que sempre te tocou, consegues sentir a minha cabeça no teu ombro, a minha mão sobre a tua e o meu olhar que docilmente te pede protecção e te protege atentamente pelo teu caminho…
Acho que nunca consegui perceber muito a fundo o que nos separou, o que faltou, o que correu mal…mas percebo que é comum perdermos o bom por querermos melhor, egoístas, talvez, mas eu não quero melhor, chega-me o teu jeito, o teu sorriso, o teu olhar, a tua personalidade, embora saiba que às vezes é difícil gostar de ti…mas sem saber como, és metade da minha metade, e estou completamente incompleta, és aquele ser a quem nem sempre apoiei por te querer bem, és aquele ser, que eu admiro e respeito, tal como és…és aquele ser que me fascina mesmo depois de me ter mostrado o pior lado do amor, mas fizeste-me descobrir que existe em nós sempre uma outra pessoa, pessoa que aprendi a ser contigo e que nunca mais voltou, desde que abalaste!
Também Ulisses abalou um dia…até que Penélope ouviu os seus passos de regresso, regressava a casa, cansado de ser herói, mas com vontade de ser marido…tu, se quiseres fazer parte da minha vida, ser aquele amor que nos vislumbra e morre connosco, talvez ainda venhas a tempo…talvez eu, ainda, consiga ouvir os teus passos e te abra o coração que te dei desde o primeiro dia.
Até lá, e porque a vida nem sempre é como desejamos, sei que o melhor dia chegará contigo e espero por ti sem esperar…
“ Para onde quer que tenhas ido, onde quer que estejas, estarás sempre comigo para além do tempo”.

HEsteves

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