sexta-feira, 24 de maio de 2013

As Cinquenta Sombras de Helly - XI

A história foi-se arrastando.

Foi mantido um contacto permanente, um olhar cúmplice, um encontro e outro à socapa, uma loucura saudável, corações deslumbrados e também uma consciência pesada.

Mas a força da atração, ou seja lá o que for, que move dois corpos ao encontro um do outro superava os medos, as inseguranças, alimentando a alegria que o brilho dançante nos olhares denunciava, e cruzando os braços nas suas próprias lutas interiores arrastaram-se pelo tempo e foram dando voz aos dias sem ouvir razões ou inconsciências.

Num encontro passeante, cobridos pelo manto estrelado, onde os seus passos eram a melodia solta da noite, misturada na penumbra do luar, o inevitável acontecera.

Os corpos entrelaçaram-se formando apenas um ser.

Tudo começa num simples beijo, e o desejo aumenta a cada tocar de lábios, as mãos começam a ser pincéis em telas humanas, e tocam cada canto dando cor ao quadro que há muito se pensara e que a inspiração não permitira pintar. Somos pintores de amores, de desejos consumados, de actos vividos… na ponta dos dedos temos a tinta que queremos visualizar, mas é a interpretação de cada um que comanda a obra, e num ápice de instantes, quando as respirações deixaram de ser há muito serenas, e desenhando-se um movimento linearmente elegante, onde os corpos bailavam colados, para cima e para baixo, ignorando o colchão “saruguento” e pedriscoso eis que Helly pede para parar.

O remorso e a dúvida de que nada de errado fazia, assaltaram-lhe a consciência e não a deixaram continuar, pelo menos com o mesmo prazer. A palavra “pára” fizera fila saída da sua boca, tirando lugar a qualquer outro som ou sílaba. Simão incrédulo, tentara acalmá-la, mostrando-lhe que o mundo nem sempre pode ser nosso, mas que há momentos que só ficam nas nossas histórias. Pouco ou nada adiantara, a pintura ficaria a meio, ou quem sabe inacabada para sempre.

Sacudiram a roupa, vestiram-se, beijaram-se mais uma vez na forma de consolo, deram um abraço como se pedissem desculpas um ao outro, e quase que nem sabiam porque o faziam… Haveria algo a desculpar?

Caminharam de mãos dadas até casa, nenhum proferiu uma palavra, eram agora como dois desconhecidos mudos… Quanto tempo precisariam para voltar a conhecer-se?

Helly chegada ao seu quarto tentava convencer-se que no fundo a essência daquela tela era bonita e genuína, mas a única coisa que conseguia sentir, era a dor de um pico cravado num dedo.

HEsteves

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