quinta-feira, 15 de abril de 2010

FAZES-ME FALTA


Como o amor – perfeito – jamais parará de acontecer, jamais parará de contagiar o medo dos vivos, a sua solidão, a sua infinita capacidade de matar devagar.”
“ Por quem sou, não posso calar-me. O que sou é o único lugar seguro que conheço.”
Todos os dias da minha vida estive contigo – como se todas as amizades anteriores fossem só o caminho para chegar a ti, como se todas as amizades posteriores fossem apenas ausência de ti.”
Arrumei os amores, é a primeira regra da vida – saber arquivá-los, entendê-los, contá-los, esquecê-los. Mas ninguém nos diz como se sobrevive ao murchar um sentimento que não murcha
.”
“ Fartas-te do meu corpo, mesmo abstracto? Em que dia me abandonaste? Em que palavras a minha voz se partiu? Que sombra se abriu por dentro dos teus olhos para despedaçar a minha imagem?”
“ Foi sem querer. Se deixei de te comover, de te divertir, de te inspirar, (…), foi sem querer. Foi sem querer que te copiei, para não te perder, para não perceberes que eu se calhar não era capaz. Foi sem querer que se calhar não fui mesmo capaz – preguiçosa, timorata, escondida na gruta da perfeição impossível.”
Se eu imaginasse que continuaria por dentro da morte a chorar por ti, ter-te-ia procurado em vida para te matar.”
Não me deixes morrer. Dá-me um espaço eterno no teu corpo mortal. Não quero que venhas ter comigo, os mortos não se encontram, talvez andem todos por cá, nos buracos negros do tempo, a vigiar os vivos que não souberam amar até ao fim.”
Mas as tuas gargalhadas parecem ter morrido comigo – ri-te, vá lá, lança os braços ao céu e ri-te grandiosamente, como te rias de mim. (…) O mundo não tem sentido – e eu continuo aqui, não sei onde, à espera que alguma coisa aconteça. Porque as mulheres nunca se cansam de esperar que qualquer coisa aconteça, dirias tu, por isso envelhecem tarde. Ou, melhor dito, nascem velhas.”
Os nossos amigos telefonam-me. Dizem-me que tenho que reagir, dizem-me que escreva. Que te escreva. Tu travas-me a mão. Não queres que te escreva.
Não queres que eu faça nada de novo, nada que modifique a nossa história.”
É de olhos abertos que de encontro – nos buracos de silêncio da minha casa, nos interstícios das multidões ao fim da tarde, no bafo sobre os vidros, quando o frio esmaga a noite.
Tive medo de te ir esquecendo, nos primeiros dias, mas não é verdade o que as pessoas dizem sobre o tempo.”
Porque afinal eu amei um homem, um só, como se ama a Deus – com aquela certeza desesperada de que era aquele, e de que nunca me seria possível viver com ele.”
Inês Pedrosa, Fazes-me Falta

2 comentários:

  1. Vejo que descobriste o livro da tua vida! (lol)
    Belas passagens, revejo-me quase em todas! :/

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  2. Lol, não sei bem se será o livro da minha vida, apenas me identifico muito com ele, numa certa fase sa minha vida...é engraçado, como é que podemos ser todos ter histórias tao iguais com pessoas tao diferentes...

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