terça-feira, 10 de maio de 2011

23ª carta...




Esta carta devia ser a vigésima oitava…e devia ter sido escrita no dia 28 de Abril, mas talvez por falta de tempo, por falta de inspiração ou até mesmo por falta de vontade, escrevo-a apenas hoje…e no fundo, talvez faça mais sentido assim, uma vez que a nossa história é daquelas que jamais terá sentido…tu não fazes sentido…trocas as frases, como um dia de trovoada troca a chuva pelo sol…eu não faço sentido…troco o modo que te olho, como os saltimbancos trocam de terra …
E vivemos nas permutas do tempo, pondo capas, inventando personagens, fazendo magias axiomáticas, trocando a dor pelo orgulho, a educação pelo desprezo, a tristeza pelos sorrisos e as lágrimas por um brilho no olhar…
Mas nesse tal dia 28, despi a capa em que me embrulho, deixei de interpretar papéis que não são meus, deixei-me de magias ocas, dei lugar à dor, sorri com a tristeza, deixei o brilho transformar-se em lágrimas… e fui lá…onde tudo começou…sentei-me no banco…imaginei a bicicleta encostada do outro lado da parede, imaginei a tua presença, ouvi a memória e senti aquilo a que chamam de “amor”… poderia dizer-te que me arrependo de tudo o que fiz, mas não…embora tenha partido o coração e tudo o que de mais daí advém, não me arrependo de nada do que vivi contigo, simplesmente porque fui a mulher mais feliz e mais completa…ainda bem que existiu este dia, ainda bem que exististe em mim…
Queria muito sentar-me dia 28, por anos e anos, naquele banco verde contigo ao lado…queria que a minha vida fosse tocada na ponta dos teus dedos, como um pianista toca nas teclas de um piano, em músicas boas de ouvir; queria realizar o sonho de quase todas as mulheres, vestir-me de “branco”, ter um anel no meu dedo, colocado por ti; queria ver-te acordar todas as manhãs com os olhos inchados; queria poder fazer-te canjinha quando ficasses doente; queria poder beber contigo chá, nas canecas de cerveja, nas noites frias; queria poder dizer-te que nem sempre estás correcto, mas que eu estava contigo para tudo… queria poder ficar noites e noites acordada quando fosses em salvação de outrem; queria poder carregar em mim uma parte de ti, deixar crescer uma barriguinha; queria poder dar-te um miminho quando estás naqueles dias rabugentos; queria poder fazer-te umas pantufas de lã para quando fosses velhinho… queria poder partilhar contigo os melhores e os piores momentos da vida…
Mas tudo isto não passa de um “querer”… Por agora, vou, apenas, “querer” ser a “conhecida” que me pediste para ser… vou ser a antítese…a “conhecida” que embora quase nem “olá” ou “adeus” te diga, te conhece melhor que ninguém a cor dos olhos, o tom da voz, o sabor dos lábios, o cheiro da pele…
E com tudo isto, e pela situação inadmissível em que me condeno a viver, várias pessoas, perguntam-me porque é que eu ainda gosto de ti? Porém, a verdade, é que nunca ninguém me perguntou se eu, ainda, te amo!?
Mas o que sinto ou não sinto, já pouco nos importa! Há muito que aprendi a arrumar os sentimentos, tal como arrumamos o melhor livro que lemos ao lado de tantos outros…e assim, arrumei-te numa qualquer prateleira torta na estante do coração… Todavia nunca te esqueças que tal como um livro acomodado, apertado, bloqueado…e com uma penumbra de pó…a sua essência jamais será apagada…a história que possui nas linhas compostas por uma vastidão de letras, jamais será extinta… tal como o meu sentimento, embora bloqueado, só terminará, de verdade, no dia em que a morte chegar à vida de um de nós…
Dizem que nas grandes e bonitas histórias de amor, há sempre algo que não se diz, e porque eu quero que a nossa seja assim, ainda, deixo muito por dizer…
Para terminar, poderia agradecer-te por tudo, pois tornaste-me a mulher que sou hoje, mas a verdade, é que não te vou agradecer…preferia ter continuado a ser a miúda de um “ontem”…








HEsteves


2 comentários:

  1. Lindo esse seu post!

    Volte para tomarmos um cafezinho!
    www.donacostura.blogspot.com

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  2. Obrigado Dona Costura!!
    Será um prazer...
    ;)

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