terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

6ª Carta...

Exmos. Senhores
Bem sei que para quem está de fora, é fácil falar; opinar; sugerir; aconselhar… mas na verdade, quem está lá dentro é que vê o fundo do “poço”, e por isso não consigo imaginar a profundidade de tal buraco.
No entanto venho, gentilmente, convidá-los a descer desse beliche onde parecem ter adormecido e pisarem o mesmo chão que todos nós…e olhem em volta!
Olhem para as gerações mais novas! Ao que parece, a mais qualificada de sempre, mas infelizmente, a mais desempregada de sempre, e, consequentemente, a mais deprimida de sempre, resultado do cansaço do “não” constante e da desmotivação que o mesmo trás…já para não falar, da desmotivação que as pessoas do “activo” trazem, ao saber que só obtém a reforma aos 65 anos…e pensam que o pais ganha mais com isto? Enganam-se! A pessoa está cansada de trabalhar e trabalhar, sem que muitas vezes o seu mérito seja, verdadeiramente, reconhecido! Por isso, em tal idade, já, não se preocupam em ser produtivos mas apenas em ir fazendo…Pior que estes são os que foram despedidos, cheios de responsabilidades familiares e filhos para cuidar! E como vão sobreviver? Não sabemos, ninguém sabe… mas passeiem pelas ruas e olhem para as dezenas de pessoas que fazem do chão a sua cama e do céu o seu cobertor, que se expõem aos olhares de pena, mas sobretudo aos olhares de indiferença! E vocês? Vão continuar indiferentes?
Talvez a rua seja o destino de algumas destas famílias…E as crianças? Quantas vão ser retiradas? Até que ponto o tecto de uma instituição substitui o calor do colo de uma mãe ou o abraço de um pai? Eu não sei responder a isto…e vocês? Sabem?
Mas não fiquemos por aqui, olhemos para os mais idosos, que por impressionante que seja, morrem sozinhos em casa e passam anos a deteriorar-se no sítio onde caiem, sem que ninguém se dê conta! Não há facto que possa justificar a negligência de tal acontecimento, porém podemos dizer, que a falta de posses e as poucas ajudas prestadas podem ser um factor a considerar, pois as míseras reformas não são suficientes para a alimentação e medicação, quanto mais para pagar um serviço domiciliário ou algo do género…pois também estas casas, parecem esquecer-se que são uma instituição de solidariedade e social, onde, maior partes das vezes, a solidarização e cooperação é quase que inexistente.
Poderíamos continuar a andar por ai…mas creio que já vimos o suficiente! Agora subam ao vosso beliche e durmam bem, se o conseguirem…
Bem-haja.
HEsteves

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